Artigo: Como arranjar trabalho (de tradução simultânea)?




Sinto desapontar aqueles que freqüentemente me fazem a pergunta do título deste artigo, mas não tenho respostas satisfatórias para oferecer àqueles que estão saindo ou acabaram de sair da faculdade de tradução. Não tenho uma receita infalível para arranjar trabalho. Se a tivesse, estaria trabalhando agora em uma cabine e não estaria em casa às 4 da tarde escrevendo no meu blog, concorda? Antipatia e azedume à parte, - não ter trabalho é mesmo um porre! - vou dar algumas dicas que, espero, lhes possam ser úteis.

Todos sabem que os primeiros trabalhos são os mais difíceis de se conseguir e, diga-se de passagem, isso se aplica a qualquer profissão, não é mesmo? Na nossa, há um agravante: em geral, a distribuição de currículos não dá muito certo, nem para clientes em potencial nem para colegas. A recomendação, ou seja, o boca a boca, costuma dar mais resultados entre os profissionais liberais.

A explicação é muito simples: não espere que nenhum veterano vá se entusiasmar com o CV de um jovem inexperiente. Aliás, qualquer cliente, em sã consciência, vai optar por um profissional com mais prática. E não adianta se indignar porque, pode acreditar em mim, você faria o mesmo! Ou você iria se consultar, por livre e espontânea vontade, com um médico que acabou de sair da faculdade? Você contrataria um arquiteto de 23 anos incompletos para projetar sua casa na praia? E nem me venha com esse papo de que é preciso dar oportunidades aos jovens porque não há tanta compaixão no mundo assim. Que o jovem cirurgião vá ganhar experiência operando outro. Fazer test drive na minha próstata, nem pensar! Nossa, quanta acidez! Olha a úlcera, Ulisses!

A única exceção ocorre quando há um volume muito grande de trabalho e somos obrigados a indicar e/ou contratar alguém com menos experiência. São as épocas de maré alta, quando todos os profissionais tarimbados estão ocupados. Aí sim, pode surgir uma oportunidade para aqueles jovens que se destacam de alguma maneira.

Não se esqueça, entretanto, de que a fonte mais provável de trabalhos costuma ser seu círculo de amizades, contatos profissionais e colegas de faculdade. Em outras palavras, a indicação é feita por alguém que conhece suas qualificações como tradutor ou intérprete. Ajuda bastante se você tiver outro curso superior, alguma especialização, enfim, algo que o diferencie da multidão.

Nunca pare de estudar seus idiomas de trabalho e, se mora no Brasil, dê atenção especial à língua portuguesa. Se possível, acrescente mais um idioma à sua combinação lingüística.

Cultura geral é imprescindível na nossa profissão. Leia como se fosse um verdadeiro rato de biblioteca mas não se limite à literatura. Leia jornais, revistas, blogs, assista a filmes e documentários sobre todos os assuntos possíveis e imagináveis. Tudo isso, é claro, nas línguas que você já fala ou começou a estudar. Tradutores e intérpretes são bichos curiosos por natureza e, para nós, não existe cultura inútil. Qualquer assunto pode aparecer no texto a ser traduzido ou na boca do orador: uma citação sobre mitologia, beisebol ou mexericos sobre celebridades. É importantíssimo estar antenado! O tempo todo!

Faça cursos profissionalizantes como o da Associação Alumni em São Paulo, por exemplo. A PUC e o UNIBERO, também em São Paulo, e a PUC-Rio, oferecem cursos de extensão. Informe-se, estude, participe de comunidades no Orkut sobre tradução e interpretação, amplie sua rede de contatos e boa sorte! Fácil não é mesmo, nem para os estudantes de medicina, arquitetura, direito, administração, psicologia...

Cf. Tradução Simultânea
Cf. Artigo: Sabe inglês? Vire intérprete...
Cf. Ainda sobre perguntas
O autor
Ulisses Wehby de Carvalho é intérprete de conferência, membro da APIC - Associação Profissional de Intérpretes de Conferência e da TAALS - The American Association of Language Specialists . Veja CV completo.