Um dos passatempos nacionais é falar mal de legendagem. Encontrar erro no serviço dos outros é fácil e divertido. Fazer serviço sem erros é mais difícil e, provavelmente, menos divertido.
Essa história de ficar catando erro em serviço dos outros é perda de tempo. Quando você encontra um erro no serviço de um colega, não aprende nada: se você encontrou uma tradução e notou que estava errada, é porque já sabia.
Melhor ficar procurando os acertos, aquelas sacadas em que você jamais tinha pensado, soluções que nunca tinham passado pela tua cabeça. E legendagem é sempre uma lição extraordinária para todos nós, mesmo quando não é nenhum primor de trabalho.
Legendagem tem terríveis limitações quantitativas: duas breves linhas de texto que têm de ficar um certo tempo na tela, se não, o espectador não consegue ler. Nem todos neste mundo fizeram curso de leitura dinâmica e, além disso, o espectador não pode se dedicar exclusivamente à leitura da legenda: precisa ver o filme, também. Por isso, salvo se for um daqueles filmes tipo Ingmar Bergman em que só se diz uma palavra a cada quinze minutos, é bom nem pensar em traduzir tudo: você precisa aprender a ouvir duzentas palavras e traduzir tudo aquilo com, digamos, cinqüenta. Aquela historinha de que a tradução em português é mais longa simplesmente não funciona para legendagem. A legendagem tem de ser mais curta, muito mais curta.
O truque é fazer com que a mensagem fundamental passe, o que exige do tradutor uma capacidade extraordinária para selecionar e resumir. E ficar rezando para o leitor não ser surdo e perceber o tom de, digamos, ironia, alegria ou tristeza do artista, que você não tem como mostrar na legenda.
Para piorar, não se pode usar vocabulário muito complexo. Tem uma palavrinha porreta que cabe exatinho ali, mas os limites do vocabulário do espectador têm de ser respeitados e ninguém fica vendo filme de dicionário na mão. Então tem de se virar com uma coisa mais simples e pronto.
Para rematar, em legendagem, não há notas do tradutor. Quem quer fazer legenda, tem de aprender a se virar sem essa muleta tão amada de alguns colegas que traduzem livros.
Embora não tenha a mínima vontade de trabalhar com legendagem, tenho vontade de fazer um curso, para aprender as técnicas. Deve ser muito divertido e útil para qualquer um de nós, independentemente do nosso tipo de trabalho.
Por hoje, é só. Amanhã, deve ter mais. Passou um furacão dos bons por aqui, furacão capaz de furar um Rottweiler, mas parece que está amainando: acho que vou poder voltar a postar todos os dias, o que é uma delícia para mim. Obrigado por ter dado uma chegadinha. Se gostou do que viu, conte para os colegas. Se não gostou, conte pelo menos para mim, para ver se eu consigo fazer melhor este negócio todo. Sugestões são bem-vindas.
Cf. Tradução: Títulos de filmes
Cf. Tradução: Erros de tradução nas legendas de canais pagos