Ortografia: Tatuagem

Acabo de fazer minha primeira tatuagem! Antes de explicar os motivos, aqui vai a dica: em inglês, dobre o "T" e o "O" para escrever "TATTOO". Reconheço que fui influenciado pelo programa Miami Ink do canal de televisão a cabo People + Arts. Depois de assistir a alguns episódios e ouvir os motivos pelos quais muita gente decide fazer uma tatuagem, resolvi eu também prestar uma homenagem a alguém especial. O Paulo, meu único irmão, faleceu em 1996 e tinha um tigre tatuado no braço. Já estava com vontade de fazer uma tatuagem e o motivo era mais do que justo. Ontem, dia marcado para a primeira sessão, eu estava bastante animado mas também apreensivo.

E o que essa história tem a ver com o blog? Calma que eu vou explicar. A dica de hoje é também sobre leitura. Não preciso convencer ninguém de que ler é importantíssimo para o aprendizado de qualquer idioma, né? Pois bem, por uma dessas coincidências incríveis, quando eu procurava por um documento, acabei encontrando um texto escrito pelo meu irmão em 1992, que reproduzo abaixo. Quem já gosta de ler vai se identificar. E, para você que ainda não descobriu esse prazer, espero que as palavras dele despertem o interesse.

Abraços a todos,
Ulisses

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Aconteceu

Gostava de ler. Desde criança, antes de começar na escola, seu pai lhe ensinara algumas letras, depois sílabas e então, milagrosamente, começou a compreender os sinais que tanto o intrigavam.


Primeiro as histórias em quadrinhos, depois os almanaques de sua mãe, aos poucos os livros, estes sim, amigos firmes, definitivos, eternos talvez. Alguns deles, guarda-os até hoje. São de seu pai. Nem chegou a terminá-los por inteiro. Livros sobre Direito, Economia, nunca fora muito amigo desses assuntos. Mas amava os livros. Mantinha-os na estante e sempre à mão.


Jamais poderia esquecer da primeira vez que escolhera um livro por si mesmo. Era criança ainda, devia ter doze ou treze anos, por aí. Andava com um bocado de dinheiro pelo centro da cidade para pagar uma conta de seu pai; errou a porta de um prédio e pronto. Estava lá; era um sebo, grande, gigantesco, milhares de livros. Não havia dúvida, aquilo era um templo. Antes de colocar a mão, perguntar ou fazer qualquer outra coisa, só andou. Andou e olhou. Perguntou preços. Gostou.


Acabou levando vários, medo de apanhar não havia, todos entenderiam. Camus, Eça, Kafka, Pessoa; gente que mudaria sua vida definitivamente. Foi bom. Apanhou um pouco na volta, por causa do dinheiro, mas gostava de ler, fazer o quê?

por Paulo Wehby de Carvalho (1992)